quinta-feira, 16 de abril de 2015

O PT podia ter afastado antes de ser preso. Porque não fez?



O PT anunciou o afastamento de João Vaccari Neto da tesouraria do partido nesta quarta-feira. Pela manhã, ele foi preso no âmbito da Operação Lava Jato e já transferido para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Segundo nota assinada pelo presidente da legenda Rui Falcão, o pedido partiu de Vaccari "por questões práticas e legais". Apontado pelas investigações como o principal operador do PT no escândalo de corrupção na Petrobras, Vaccari teve decretado pelo juiz federal Sergio Moro mandado de prisão preventiva.
Como de praxe, o partido apressou-se em atacar a Justiça diante da prisão de mais um integrante da sigla pilhado em esquemas de corrupção. "A detenção de João Vaccari Neto é injustificada visto que, desde o início das investigações, ele sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar qualquer esclarecimento que lhe fosse solicitado", disse Falcão em nota.
Apesar de o partido afirmar que o afastamento partiu de Vaccari, o anúncio foi oficializado após reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Falcão, em São Paulo, convocada às pressas após a prisão do tesoureiro. O enredo faz lembrar o protagonizado pelo ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares, que pediu afastamento do cargo no partido ao se tornar alvo de investigações no escândalo do mensalão, em 2005. A decisão se deu em agosto daquele ano, após reunião que dividiu a Executiva Nacional do PT: uma parte queria a expulsão de Delúbio e a outra defendia sua suspensão. Dois meses depois, o Diretório Nacional expulsou o ex-tesoureiro da sigla - Delúbio foi refiliado em 2011, como parte da estratégia do partido de fortalecer aqueles que seriam julgados no Supremo Tribunal Federal por envolvimento no mensalão.
Vaccari foi preso em São Paulo na 12ª fase da Operação Lava Jato . A mulher dele, Giselda Rousei Lima, foi ouvida na casa em que mora o casal. O agora tesoureiro afastado Vaccari foi apontado por delatores do petrolão, como o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, como um operador de propinas para o PT. Em seu acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, Barusco disse que o tesoureiro petista recebeu, em nome do partido, de 150 milhões a 200 milhões de dólares em propinas de 2003 a 2013, por meio de desvios e fraudes em contratos com a Petrobras. Barusco se comprometeu a devolver 97 milhões de dólares recebidos como suborno.
Dois empreiteiros que presos na Lava Jato, Eduardo Leite (Camargo e Corrêa) e Gerson Almada (Engevix), também relataram em depoimentos à Justiça Federal que Vaccari pedia que os pagamentos de propina ao partido fossem dissimulados na forma de doações eleitorais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo Leite, Vaccari sugeriu que ele depositasse em contas de campanha cerca de 10 milhões de reais cujo repasse estava "atrasado", em 2010.

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