quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O desabafo de Micarla

A Prefeita afastada de Natal, Micarla de Sousa, conversou com o Jornal de hoje. Mostrou sua indignação, falou da família, da dor, da esperança e certeza da inocência.
Micarla de Sousa esteve sob efeito de medicamentos, e mesmo assim, garantiu que lutará para provar sua inocência. Veja na íntegra a entrevista de Micarla ao JH:
Micarla de Sousa, prefeita afastada de Natal


Em resposta esta manhã às acusações de pagar a escola dos filhos com dinheiro público e de que comanda uma organização criminosa, a prefeita de Natal, Micarla de Sousa, disse considerar “um absurdo”. “Me senti a própria comandante do Comando Vermelho, eu e Fernandinho Beira-Mar”, afirmou a prefeita, sob efeito de medicamentos, sobre a agressão a que se considera submetida restando 60 dias para o término do seu mandato.
Segundo Micarla, no que diz respeito ao uso de recursos públicos para pagamento de escola, a acusação chega a ser contraditória. Isso porque o MP questiona seu rendimento anual, de R$ 338 mil (em torno de R$ 28 mil/mês), entre pró-labore da TV Ponta Negra e salários como prefeita, R$ 14 mil (brutos, sem descontos), mas a julgam incapaz de pagar a mensalidade escolar dos filhos com recursos próprios.
“Eles dizem que encontraram um pagamento das escolas das crianças, no total de R$ 900, afirmando que eu estaria pagando a escola com dinheiro público. Eles próprios se contradizem. Dizem que eu tive uma receita de 300 mil em 2011, como é que não consigo pagar a escola das crianças”, comparou a prefeita.
RECURSO
O advogado de Micarla, Paulo Lopo Saraiva, entrou no final desta manhã com agravo regimental junto ao Tribunal de Justiça do Estado. O objetivo é que seja revista a decisão do desembargador Amaury Moura Sobrinho. “Vou dizer que não há provas para que ela seja afastada. E vou defender que foi afastada sem o devido processo legal e sem ampla defesa. Isso fere a Constituição Federal. Ela deveria ser citada para se defender, mas não foi”, disse Saraiva, que também iria pedir diretamente ao desembargador para “rever a decisão dele”, ou então, enviar o processo para a 3ª Câmara Cível do TJ julgar.
Paulo Lopo Saraiva também entraria hoje à tarde com uma Reclamação junto ao Supremo Tribunal Federal. “Devo ajuizar uma reclamação ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo que o Supremo determine o cumprimento da Constituição, que garante a presunção da inocência, o devido processo legal e a ampla defesa”.
Segundo Saraiva, o MP entrou com uma medida cautelar penal. “Não foi nem processo legal. Cautelar é muito pouco, é muito pequeno”, para o afastamento. Para ele, a Constituição assegura o direito de Micarla à presunção da inocência, ao devido processo legal e a ampla defesa. “Vou atacar o despacho e espero que o próprio desembargador reconsidere, por Regulamento. À tarde, vou ao Supremo, e garanto: o Supremo é o guardião da Constituição e há três lesões. Repito: presunção da inocência, o devido processo legal e a ampla defesa”.
O advogado de Micarla também se colocou contra a continuidade do segredo de Justiça. “Sou contra, porque acho que a imprensa tem que tomar conhecimento. Acho que é um assunto público. Como ela é uma pessoa publica não há porque não entregar nada”.
Lopo concluiu informando que conversou com o desembargador. “Conversei com o desembargador e ele disse que não ficaria constrangido em mudar de convicção. Estou confiante nos argumentos que vou apresentar, porque são argumentos fortes”, finalizou.

Micarla: “Eu vou lutar para defender a minha honra”
A prefeita afastada de Natal, Micarla de Sousa (PV), afirmou no final da manhã desta quinta-feira, no dia seguinte após ser notificada pela Justiça Estadual do seu afastamento, que irá lutar até a última instância para se defender das acusações do Ministério Público. “Eu vou lutar até a última instância para defender a minha honra”. A prefeita afirmou ainda que não conviverá jamais com qualquer mancha pública. Confira os principais trechos de sua entrevista ao Jornal de Hoje.
INDUÇÃO AO ERRO
O desembargador Amaury Moura Sobrinho sempre teve da minha parte muito apreço, respeito. Acredito que a forma como os elementos foram levados a ele, o fizeram tomar esta decisão, que em minha opinião teria sido diferente se a mim tivesse sido dado o direito da legítima defesa. Mas acredito na Justiça Brasileira. Acredito que isso vai ser reparado e que, muito em breve, a população do RN, de Natal e do Brasil vai poder ter acesso às informações verídicas dessa situação.
FAMÍLIA
Eu sou uma mulher que todos me conhecem desde quando nasci. Tenho muito orgulho do pai e da mãe que tive e que tenho, da honradez, do caráter da minha família. Tenho muito orgulho de tudo o que aprendi e tenho o senso da responsabilidade de que hoje, cada ato meu, impacta na vida de dois pequenos, de 10 e 8 anos, que são meus filhos. E ninguém pode imaginar o tamanho da dor que eu enfrento com a minha família.
VIDA PÚBLICA
Essa dor, essa marca colocada no meu coração, nem o tempo vai apagar, jamais. Por isso, se antes eu já estava repensando a minha vida e a minha saída da política, por eu não fazer parte de qualquer grupo poderoso do meu estado, agora eu tenho certeza da minha decisão mais do que nunca. A política do RN não é feita para plebeus como eu, apenas para uma seleta aristocracia.
MP
Sempre tive pelo procurador-geral, Manoel Onofre Neto, muito apreço. Ele foi meu colega de Marista, sempre tivemos uma relação muito boa. Eu, por várias vezes, quando estava com ele, disse a ele do orgulho da nossa geração, de termos alguém num cargo tão especial como este. Mas, posso dizer que hoje, meu sentimento é de profunda tristeza e decepção com o MP. O que posso dizer é que fiquei impressionada. Vivemos numa democracia. O MP é formado por pessoas inteligentes. O órgão foi formado durante o processo de redemocratização do país. Não pode agir como se vivêssemos no período da ditadura militar.
SEM DEFESA
Não se pode imaginar, em pleno período de democracia ampla, plena e irrestrita, que se tomem decisões e se julguem pessoas sem o direito de defesa. Estão aí casos sérios no Brasil como o Mensalão. Aquelas pessoas não foram simplesmente colocadas e culpadas. Elas tiveram direito a defesa. Alguns foram inocentados, outros punidos. Mas, todos tiveram direito a defesa.
IMPRESSÃO
Tivemos casos onde houve erros grotescos. No próprio estado, o empresário Edson Faustino, que teve a vida abalada com duas prisões, em dois presídios em nosso país, após alguns anos conseguiu provar que era inocente. Não quer dizer que a primeira impressão seja a correta.
PERIGOSO
A ditadura que tirou da prefeitura de Natal o pai (Agnelo Alves) do prefeito eleito (Carlos Eduardo), há 42 anos. Naquele momento não foi dado direito de defesa porque o coronel Duque Estrada alegou ameaça à segurança nacional. Agora, qual não foi a minha surpresa quando no pronunciamento do procurador ele diz que a minha saída foi importante para dar tranquilidade a transição. Isso é perigoso, porque todos sabem a amplitude e a clareza que dei à transição.
VICE
Conversei ontem com Paulinho, ele estava ainda muito abalado com tudo, mas eu, mesmo com toda a minha dor, o encorajei para que ele possa, sim, estar à frente. Afinal de contas, é uma gestão que ele foi eleito, que ele participou, defendeu. Que ele também possa fazer a sua parte.
RETORNO?
Eu vou lutar até a última instância para defender a minha honra. A única coisa que eu tenho. Sou jornalista, não sou médica para saber passar uma receita, não sou engenheira para fazer um projeto. Sou jornalista e a única coisa que tenho é minha honra e credibilidade. Tenho dois filhos que não podem ser impactados. Eles viverão as próximas gerações sem nenhuma mancha na minha história. Vou até o fim na Justiça. Nesse momento não arredo o pé. A minha dor não é maior que o sentimento de buscar a Justiça.

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