segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um dia com DAGÔ

Do blog da abelinha.com vem a matéria, na íntegra:


Dagô e sua porção cozinheiro – Fotos: Dessana Araújo
Exemplo que confirma a máxima ‘água mole em pedra dura tanto bate até que fura’, a insistência levou Dagô a ser eleito pela primeira vez. É hoje é o mais famoso vereador da próxima legislatura. Seu bordão de campanha ganhou repetição nas línguas de A a Z. Em todas as classes. Sua popularidade é crescente. Para acompanhar um dia dessa figura singular, a coluna convidou a jornalista Dessana Araújo
Cozinheiro
Vida corrida a de Dagô. Seu dia começa por volta das 6h30. Logo, vai às notícias pela televisão. Foi aí que a Abelhinha descobriu o inédito: Dagoberto de Andrade, Dagô para todos – apelido que ganhou ainda na infância -, adora pilotar o fogão. Sempre que pode, faz o café. Coado no pano, diga-se, e com bastante açúcar. No menu matinal: mamão, queijo de coalho, bolachas, pão e café. Não pode faltar vitamina de mamão com ameixa. Dentre as outras incursões culinárias: carne de sol na nata, frango assado e macaxeira frita. “Nos finais de semana, quando estamos mais tranquilos, quem cozinha tudo é ele”, diz orgulhosa a líder comunitária Fátima Leão, sua companheira há 12 anos.
Café da manhã ao lado da companheira de todas as horas

A fama…
Todos os dias, por volta das 8h30, Dagô segue na sua inconfundível Blazer vermelha, ano 1996, para o trabalho. Passada a eleição, hora de voltar a divulgar o Forró do Dagô, que ele promove há 18 anos no bairro do Alecrim. Mas, na quarta-feira, dia em que acompanhamos a sua rotina, era especial: há exatos 30 dias ele era declarado oficialmente eleito. Pela primeira vez. A propaganda da festa cedeu espaço para uma ronda de agradecimento pelas ruas da capital potiguar. Primeiro pelo bairro de Ponta Negra, onde mora. Na Av. Roberto Freire, a poucos quilômetros do ponto de partida, me dei conta: estava de carona com uma celebridade local. Não é exagero! A cada metro percorrido, acenos, gritos, pessoas parabenizando pela eleição e até mesmo cantando o jingle da campanha. Mais as buzinas que saiam de carros, motos, ônibus e caminhões, afinal, era impossível não saber quem estava no veículo.
…Chegou
Propus um jogo e ele aceitou: contar ao longo do dia quantas buzinadas recebidas. Exatas 223. Sua popularidade chega a várias classes sociais. Os fãs-buzinadores foram desde motoboys, motoristas de ônibus, ‘amarelinhos’ da Semob, até donos de Land Rover e outros possantes. Isso mesmo! Dagô ultrapassou a fronteira entre os ricos e o povão.
Parado a todo o momento

Me ajude!
O bom humor é sua marca registrada. É o queridinho do Carrasco. Ao chegarmos à feira, muitos abraços, fotos e pedidos de “me ajude” de feirantes e clientes. Também pedidos de dinheiro, emprego etc. O novo vereador tem na ponta da língua uma saída: “Agora não posso. Só em março, quando começar a receber o salário. Tô quebrado”.
O mais querido

Sim!
E quando março chegar? “Ah, aí vou ter que dar um jeito. Mas dinheiro não posso dar não. É errado. Se quiserem melhorias para os bairros e para a cidade, aí eu ajudo mesmo. Quero retribuir a ajuda que recebi, mas não para uma pessoa só. É para o povo todo”, explica.
Mais
Na Avenida Amintas Barros, mais prova da popularidade: a funcionária de um restaurante pediu para ele descer e parabenizar uma colega de trabalho aniversariante que era sua fã. Rápido, ele sacou um CD com o hit ‘Parabéns para você’ e com o boneco Chico Preto fez a festa. “Tá vendo? As pessoas gostam mesmo de mim. Agora posso dizer que realizei o sonho da minha vida. Se morresse hoje era um homem realizado e feliz”, confessa com os olhos marejados.
No restaurante, ganha o abraço da aniversariante e fã

Sanfona
Além de táxis, Dagô é dono do Forró do Dagô, seu xodó. “O forró dá prejuízo, mas não me importo. Gosto disso aqui”, diz mostrando a pista de dança. É ele quem cuida dos detalhes do espaço de shows, faz pedido de bebidas, controla os estoques, define as atrações. A ideia do forró semanal surgiu quando se separou da primeira mulher, Ioneide, com quem teve dois dos seus quatros filhos. Aos 50 anos, não tinha muitas opções de lazer e costumava frequentar o forró dos coroas, na churrascaria Carreta. Então decidiu criar o próprio forró, para que os amigos tivessem mais uma opção.
Som na caixa
 É no quartinho que serve de escritório e morada nos finais de semana que ele guarda um presente especial: um chapéu que ganhou de ninguém menos que Waldick Soriano, durante a passagem do cantor pelo forró, na década de 1990. “Guardo isso com o maior orgulho. Era fã dele e tive a oportunidade de vê-lo tocar aqui na minha casa”.
O presente inesquecível

Religiosidade
Católico, vai à missa pelo menos uma vez por semana, na igreja São Pedro. Em casa mantém um pequeno altar, na sala, com santos, velas, terços e Bíblia. Só falta a imagem do santo de devoção, padre Cícero. E até o ‘padim’ tem história. “Quando me separei, a minha ex-mulher ficou com a casa, com o mercadinho da gente e até com meu padre Cícero. Mas não teve jeito. Com uns dias a imagem quebrou todinha. Acho que não queria ficar lá”.
Fé inabalável

História
Durante o almoço, na casa da amiga Expedita, mais uma das amizades feitas no Forró do Dagô, ele contou um pouco da sua trajetória. Natural de João Câmara, é o mais velho dos nove irmãos – todos com nomes iniciados pela letra D. Vida difícil, antes dos dez anos de idade morou em cinco cidades diferentes, acompanhando os pais na busca de uma vida melhor. A primeira vinda a Natal foi aos 13 anos, quando, escondido do pai, vendia biscoitos no Centro da cidade e catava papelão. Economias que ajudaram a família em momentos difíceis. Foi tratorista, motorista e taxista. Quase morre em um acidente de carro no dia do primeiro casamento, quando saiu da igreja e imediatamente trabalhar.
Almoço do dia

Lembranças
Os olhos voltaram a marejar quando falou da filha mais velha, Ângela, que todos os dias liga para saber do pai. Na casa dela tem um quarto para recebê-lo. Tristeza ao falar da morte da enteada Bruna, aos 18 anos, atropelada quando deixava uma festa promovida por ele em Parnamirim, há cinco anos. “Foi uma dor enorme. Ela era como uma filha para mim. Eu e Fátima sofremos muito com a perda de Bruna”.
Gestão borboleta
“Sou amigo de Micarla e acho que ela deveria ter saído antes. Evitaria todo esse desgaste. A política é traiçoeira para quem não é da elite, que não veio das famílias tradicionais”. A declaração mostra o ressentimento que marcou sua primeira tentativa de candidatura, em 2000, pelo PSB. Apesar dos esforços, ouviu que não havia vaga na chapa proporcional. Desistiu e “todo mundo achou que me vendi. Nunca consegui me defender e dizer que os poderosos não me deixaram ser candidato”, lamenta.
Subestimado
Seriam necessárias outras seis eleições (2002, 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012) para que fosse eleito pela primeira vez, como diz o jingle de campanha em todas as tentativas. “Dessa vez eu sabia que ia ser diferente. Era minha última tentativa, se não ganhasse agora, ia desistir”. No dia da convenção do DEM, partido que é filiado desde 2001, o senador José Agripino olhou para ele e disse, diante da militância: “Dagô, chegou a sua vez. Esse é o seu ano”.
Vereador
Apesar do jeito galhofeiro, Dagô evitará brincadeiras durante o seu mandato. “Eu já li o regimento interno da Câmara. Sei que preciso ter uma postura mais séria para não prejudicar o trabalho. Não quero mudar meu jeito, mas lá (plenário) não é lugar de palhaçada”, explica. Sobre o posicionamento político, aguardará a determinação do partido, mas adianta que deve integrar a bancada independente, visando o “bem estar da população”. O único medo de Dagô é decepcionar os eleitores. “Tenho um nome a zelar, não quero nunca envergonhar minha família. Só que eu sei que o dinheiro é traiçoeiro. Peço a Deus todos os dias para não cair na tentação”. Sobre o trabalho de um vereador, disse: “O vereador é como um fiscal. Tem gente que diz que vai abrir escola, contratar professor, mas isso não pode. A nossa função é criar leis para melhorar a vida da população e mostrar ao prefeito o que está errado e onde ele pode melhorar”.
Fim
Depois do papo sério e do jantar com café, pão, queijo e macaxeira frita, hora da despedida. 21h e ele já se preparava para dormir na rede, como faz todas as noites. Boa sorte, Dagô.
Hora de boa noite
Nos cabides, as camisas sociais
Contando as buzinadas

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